De Sines a Lisboa: o primeiro dia como marinheiros

Depois de meses de preparação, chegou finalmente o dia da partida.
Antes da nossa saída de Sines, visitámos o festival Ciência Viva no Verão, organizado pelos centros de Ciência Viva do Lousal, Estremoz, Faro, Lagos e Tavira. O festival apresentou diversas experiências interativas e apelativas das várias áreas científicas, para todas as idades.

Pudemos degustar produtos “fastfood” sustentáveis e alternativos (mini hambúrgueres, mini pizzas, nuggets, wraps de cavala e carapau) de forma a sensibilizar o público para o consumo destas espécies menos utilizadas na alimentação, e assim minimizar a sobrepesca e o consumo excessivo de outras espécies como a sardinha. Este é uma dos temas que contamos abordar durante a nossa viagem.

Após algumas conversas com os media fomos à caravela Vera Cruz para descarregar o material. Conhecemos a nossa nova família da próxima semana, fomos distribuídos por beliches e divididos em três “quartos” (termo utilizado a bordo para definir equipas de trabalho). Cada “quarto” é responsável pela caravela durante quatro horas diurnas e três horas noturnas e é aqui que aprendemos a ser marinheiros. Para o sucesso da viagem, a cada um é designada uma tarefa, desde estar ao leme para manter o rumo, fazer a vigia para evitar a colisão com outras embarcações ou obstáculos, até fazer limpezas e arrumar o espaço comum. Para além destas tarefas temos de gerir o tempo de forma a poder descansar e desenvolver as nossas experiências científicas.

A primeira experiência como marinheiros começou com um ótimo jantar – dois pratos à escolha: feijoada e bacalhau à brás (ambos estavam divinais!), preparados pelo “chef” Ribeiro, o nosso cozinheiro e o homem com mais milhas a bordo. Achámos logo que era a pessoa mais importante a bordo pois garante a boa alimentação que nos dá forças para o dia-a-dia.

Por volta das 23h a aventura começou. Saímos do porto de Sines, um dos poucos portos naturais de águas profundas na Europa, devido às suas caraterísticas geológicas únicas – uma escarpa submarina permite uma profundidade de 17,5 m. E apesar do grande tráfego marítimo, a água é tão limpa e controlada que se pode tomar banho e comer as douradas e robalos criados na aquacultura inshore.

Depois de nos afastarmos o suficiente da costa parámos para as primeiras medições (salinidade, temperatura e pH) e recolha de amostras de água e de microplásticos. O que para nós parecia fácil antes de embarcar, a bordo tornou-se um grande desafio: tivemos de aprender a lidar com a ondulação, o espaço reduzido, a falta de iluminação (para felicidade do nosso astrónomo de bordo).

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Recolha de microplásticos.
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Experiências em curso

Findas as medições e amostragem seguimos para alto mar, noite adentro. E a noite revelou-se agitada e com ventos contrários. Tudo isto pôs à prova o nosso sistema de equilíbrio habituado a andar em terra firme…